Kris Meeke de fio a pavio!

Kris Meeke e Stuart Loudon lideraram o Rali Terras D’Aboboreira 2024 desde o primeiro ao último troço, exercendo um domínio tão incontestável que nem mesmo um furo na quarta “especial” o chegou a pôr em causa, ainda que a diferença para o segundo classificado (então, Yohan Rossel) tenha ficado, nesse momento, presa por escassos 2.2s.

O desfecho da prova do Clube Automóvel de Amarante pode ser analisado, entre outras, à luz de duas principais condicionantes, chamemos-lhes assim, mas nenhuma exclui os dotes de condução do vencedor como fator mais determinante. O primeiro tem a ver com a posição de Meeke na estrada durante o primeiro dia, que lhe foi fortuitamente benéfica, porque o piloto não teve qualquer papel nessa escolha, fruto do acidente na Qualifying Stage que o pôs em último.

Mas se a chuva que caiu o beneficiou em vez de o eventual piso seco o prejudicar, houve também algum demérito nos demais rivais, que, tendo consciência de que choveria, não quiseram correr riscos e optaram por posições recuadas e seguras na estrada. Em competição, ainda mais a este nível, com os melhores pilotos portugueses da disciplina e alguns «mundialistas», não há decisões seguras, há decisões corretas. E esta não o terá sido.

Outra eventual condicionante, que os pilotos envolvidos dizem ter peso, são os pneus dos «mundialistas», que a FIA obriga a participar sob regulamentos específicos e que passam por um peso superior em quatro quilos por cada (16 kg no total) e um piso mais duro, porque concebido a pensar no desgaste provocado classificativas mais longas. Tanto Meeke como os rivais que alinham no WRC reconhecem que este fator pode ter influência, mas todos aceitam bem a regra.

Independentemente disso, Kris Meeke foi imperial. Só não venceu a super-especial, por seis décimas, Baião 1, onde furou, e a última, Aboboreira 2, já a gerir uns muito desgastados pneus. “Adoro estas classificativas. Esta zona de Amarante é qualquer coisa de fantástico, são os melhores troços do mundo! Estou absolutamente feliz”, enalteceu um eufórico Kris Meeke, no final da prova.

Pierre-Louis Loubet e Loris Pascaud conseguiram recuperar a segunda posição aos compatriotas Yohan Rossel e Arnaud Dunand, mostrando-se ambas as duplas em bom plano e cumprindo o propósito que os trouxe a Portugal. O mesmo se pode dizer das duplas Nikolay Gryazin/Konstantin e Josh McErlean/Eoin Treacy, quarta e quinta classificadas, respetivamente, enquanto Jan Solans e Rodrigo Sanjuan foram sextos.

Armindo Araújo e Luís Ramalho foram os melhores portugueses, na sétima posição absoluta, numa prova sem sobressaltos e de gestão, a partir do momento em que Rúben Rodrigues furou e se atrasou irremediavelmente nesta luta particular. O piloto madeirense proporcionou mesmo um dos momentos dramáticos da prova, ao desistir, por avaria, na última especial, quando era um destacado terceiro no CPR. Drama igualmente com Ricardo Teodósio, mas na penúltima PE, ao desistir também, mas com estrondo, num capotamento de sucessivas piruetas a grande velocidade. Felizmente, os pilotos saíram ilesos.

Alexander Villanueva, com Jose Murado, foram oitavos, enquanto Pedro Almeida e Mário Castro garantiam o nono lugar, terceiro para o CPR. O top-10 foi encerrado pela dupla Lucas Simões/Valter Cardoso. “Foi uma boa prova e um bom resultado. Andei a gerir o andamento”, explicou um aparentemente resignado Armindo Araújo, no final.

Mais rápido também na Power Stage

Resta dizer que o Rali Terras D’Aboboreira acabou como começou, com Kris Meeke a ser o mais rápido na última especial, mas só para o CPR, garantindo assim os respetivos três pontos extra (foi terceiro à geral), atrás do vencedor Loubet e de Solans. Armindo Araújo foi o segundo, com os correspondentes dois pontos da Power Stage, e Pedro Almeida garantiu o ponto relativo ao terceiro lugar.

Hugo Lopes também de fio a pavio no CPR 2RM

Nas duas rodas motrizes, Hugo Lopes, Magda Oliveira e o Peugeot 208 Rally4 também dominaram os acontecimentos do primeiro ao último momento, igualmente numa manifestação de clara superioridade face à concorrência. Deixaram os segundos classificados, a dupla Sérgio Dias/Bruno Abreu (Peugeot 208 Rally4), a mais de dois minutos.

Mas drama também aqui nesta última especial, já que, Gonçalo Henriques e Gonçalo Cunha, em Renault Clio Rally4, que estavam confortavelmente no segundo lugar, desistiram na sequência de um toque numa pedra no meio do troço, com uma jante partida. Emanuel Figueiredo e Ricardo Sousa, noutro Peugeot 208 Rally4, que tinham baixado de terceiro para quarto relativamente à secção anterior, recuperaram assim o último lugar do pódio, inteiramente preenchido por carros da marca do leão.

O Campeonato de Portugal de Ralis prossegue, de 9 a 12 de maio próximo, com o Vodafone Rali de Portugal, quarta prova do calendário de 2024.

Classificação
1.º, Kris Meeke/Stuart Loudon (Hyundai I20 Rally2), 1:14:31.0s
2.º, Pierre-Louis Loubet/Loris Pascaud (Skoda Fabia RS Rally2), a 11.1s
3.º, Yohan Rossel/Arnaud Dunand (Citroën C3 Rally2), a 24.3s
4.º, Nikolay Gryazin/Konstantin Aleksandrov (Citroën C3 Rally2), a 1:07.2s
5.º, Josh McErlean/Eoin Treacy (Skoda Fabia RS Rally2), a 1:26.2s
6.º, Jan Solans/Rodrigo Sanjuan (Toyota Yaris Rally2), a 1:32.4s
7.º, Armindo Araújo/Luís Ramalho (Skoda Fabia RS Rally2), a 1:56.0s
8.º, Alexander Villanueva/Jose Murado (Skoda Fabia RS Rally2), a 4:00.1s
9.º, Pedro Almeida/Mário Castro (Skoda Fabia Evo Rally2), a 4:41.8s
10.º, Lucas Simões/Valter Cardoso (Ford Fiesta R5 MK II), a 4:51.6s
11.º, Paulo Neto/Nuno Mota Ribeiro (Skoda Fabia R5 Evo), a 5:22.9s
12.º, Ernesto Cunha/Rui Raimundo (Skoda Fabia R5 Evo), a 5:24.6s
13.º, Rui Madeira/Nuno Rodrigues da Silva (Ford Fiesta MKII Rally2), a 5:51.8s
14.º, Bruno Bulacia/Gabriel Morales (Toyota Yaris GR), a 8:37.7s
15.º, Ricardo Filipe/Filipe Carvalho (Skoda Fabia R5), a 9:06.4s

CPR2
1º, Hugo Lopes/Magda Oliveira (Peugeot 208 Rally4), 1.24.18.2
2º, Emanuel Figueiredo/Ricardo Pinto (Peugeot 208 Rally4), a 2.31.1
3º, Ricardo Sousa/Luís Marques (Peugeot 208 Rally4), a 3.07.7